Uma outra Inglaterra


Para quem, como eu, está acostumado a assistir as majestosas séries de época britânicas (Downton Abbey, The Crown, etc), à primeira vista Call the Midwife pode ser um choque - nada de palácios, vestidos deslumbrantes e modos refinados. Aqui nós vemos uma Inglaterra suja, desordenada e com gente vivendo de maneira tão insalubre e caótica que você se pergunta “como é que essas pessoas ainda estão vivas?”

A trama conta a história de Jenny Lee, uma jovem enfermeira que chega ao East End de Londres para exercer o ofício de parteira junto à Casa do Nascituro, uma instituição cristã que, além da atividade de assistência ao parto propriamente dita, presta um serviço semelhante aos dos médicos de saúde da família nos dias atuais.

É muito interessante observar as técnicas obstétricas empregadas na época e o quanto se  conseguia fazer com recursos tão limitados - seja em função das condições sanitárias precárias (é 1950, mas na maioria das casas não há torneiras, nem muito menos banheiros), ou mesmo da tecnologia ainda rudimentar (para se ter uma ideia, a lavagem pré-parto é feita utilizando um tubo retal de vidro, que é preenchido com um líquido aquecido à vela pela parteira).

De cara nós nos identificamos com as parteiras e as louvamos: Aquelas mulheres corajosas, em sua maioria bem-nascidas, que abandonavam o conforto de sua posição pelo anseio de servir ao próximo, a despeito de toda a falta de estrutura do entorno. Mas então, a própria série dá uma sacudida em nossa visão burguesa e diz com todas as letras através de uma fala dirigida à personagem principal: Pare de ter pena de ser mesma, você só ajuda.

As verdadeiras heroínas são as mulheres que vivem nessas condições, morando em vielas com esgoto a céu aberto, em cômodos apertados divididos com dezenas de pessoas, tendo um filho após o outro (literalmente: uma das retratadas, mãe de 25 filhos, começou a tê-los aos 14 anos e nunca mais mestruou, porque sempre esteve grávida desde então), sem nenhum controle sobre sua própria sorte ou destino.

Ainda estou no começo da primeira temporada, mas já indico esta série sem ressalvas pela relevância do tema que ela debate (crescimento urbano não planejado, controle de natalidade, prostituição infantil, etc.) e a assertividade de sua narrativa. Abaixo, deixo o trailer para vocês já irem se animando.


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